quarta-feira, 30 de março de 2011

Retalhos da minha vida I

Finais dos anos setenta. Parece que foi na pré-história. O mundo mudou muito, mas ainda há muito caminho para percorrer.
Naquele dia, apercebi-me que o mundo não estava preparado para me receber sem questionar a minha natureza. Não me lembro muito bem que idade tinha, mas ainda não andava na escola. Nesse dia, resolvi sair à rua com um tutu da minha irmã. Imaginem a vergonha que senti quando as pessoas que aí se encontravam, felizmente não havia crianças da minha idade, me apontaram o dedo e desataram a rir. Ainda hoje os vejo e ouço. Pode ser que algo tenha mudado nas suas vidas. Em mim mudou.
Eu trazia vestido um tutu e no instante em que me viram, creio ter concluído que a vida ainda não estava preparada para me tratar por tu-tu, mas sim por "aquilo". Pelo menos, foi o que senti que aqueles dedos apontados para mim significavam. Voltei a correr para dentro de casa cheio de vergonha, como se tivesse saído para desafiar o mundo e tivesse regressado derrotado. Algo me tinha atingido, talvez invisível ao olho humano, mas concreto o suficiente para ser entendido pela alma. Despi o tutu e nunca mais o vesti.

Aprendi a ser o que esperavam de mim e não tanto aquilo que eu era e esperava que a vida fosse.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Ainda não é desta...

Sinto falta daquela época em que o tempo demorava a passar e eu tinha que dar voltas à imaginação para me manter ocupado. Gostaria de ter tempo para terminar aquilo que iniciei, ou melhor, iniciar a tarefa a que me propus. A falta de tempo não permite. Quando tenho tempo, a vontade não acompanha. Voltem anos 80, voltem actividades lúdicas inocentes.
São desabafos, nada mais do que isso. Gosto da minha profissão e a falta de tempo muitas vezes é compensatória. Gostava de fazer tudo e acabo por fazer quase nada!!!